terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

DANÇARINA ESPANHOLA



Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
a se alastrar ao redor, ágil e ardente,
a dançar em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente...
Com um olhar, põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas, ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.

RAINER MARIA RILKE
Tradução: Augusto de Campos