quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Flamenco e questões de gênero

Fonte: Site oficial do bailaor.
Farruquito - Imagem do site oficial do bailaor.

Olá, pessoal! Eis-me aqui novamente para uma conversa flamenca!
Às vezes me perguntam sobre o baile masculino e as diferenças entre homens e mulheres no flamenco. O assunto rende, mas gostaria de colocar alguns pontos.
Em geral, observa-se uma predominância de mulheres que buscam e se dedicam à dança flamenca. No Brasil, vejo as escolas de flamenco sofrerem de déficit de bailaores, o que faz reduzir os (tão lindos) números apresentados por casais.
Na Espanha, tradicionalmente, convencionou-se dividir a apresentação dos palos conforme o sexo, atribuindo-se aos homens palos como a Farruca e o Martinete, e às mulheres as Alegrias, Tientos, Guajira.
A separação de gêneros e palos baseia-se em diferenças consideradas naturais entre homens e mulheres, sendo as "danças femininas" caracterizadas pela graça, delicadeza e sinuosidade do baile "da cintura para cima" enquanto nas "danças masculinas" tem-se a sobriedade, a precisão do sapateado e a força do baile executado "da cintura para baixo". O próprio sapateado, no início, era exclusivo dos homens, por exigir maior preparo físico. As roupas e acessórios também compõem essa polarização, permitindo-se às mulheres as cores vivas, babados, leques, brincos, peinetas... Para os homens, calças escuras, cintos largos, camisas brancas, coletes sóbrios.

Novos tempos
Com o tempo, os dançarinos de flamenco tornaram difusa essa demarcação que separava com clareza os artistas masculinos e femininos. Hoje as experimentações de bailes e mesmo trajes são diversas, sem extinguir a diferenciação tradicional.
Alguns cliques me levaram a materiais interessantes sobre o tema, como este artigo de Cristina Cruces Roldán, da Universidade de Sevilha, chamado "De cintura para arriba": hipercorporeidad y sexuación en el flamenco. No site Flamenco-world encontrei uma entrevista com o bailaor Manolo Martín, que diz : "El hombre, antes creían que tenía que ser como una máquina de fuerza, romper el escenario; y la artista era la mujer. Me parece una tontería porque el hombre puede tener arte, puede mover incluso las manos y no parecer afeminado". A bailaora cordobesa Fátima Franco, autora do premiado livro La indumentaria en el baile flamenco. Un recorrido histórico, faz uma ressalva em artigo publicado no site Cordobaflamenca: "Lo cierto es que en la actualidad, el baile de mujer al incorporar ese virtuosismo en la ejecución de zapateados está dando lugar a la casi extinción de la coquetería, y la sensualidad propia del baile de mujer. Podríamos hablar de que esta simbiosis, es un reflejo del cambio de mentalidad de la sociedad actual, que ha ido eliminando los roles y diferencias de género, provocando una escuela de baile flamenco asexuada. Como consecuencia de esta metamorfosis, la actuación de baile ha llegado en demasiadas ocasiones, (según muchos entendidos) a simular una tabla de ejercicios de karate más que una coreografía plástica y flamenca".

Exposição
Evocando o tema, uma instigante exposição do fotógrafo colombiano Ruven Afanador estreou em Nova York no dia 8 de novembro e seguirá até o final de fevereiro. São 60 fotografias em preto-e-branco de homens no flamenco incluídas no recém-lançado livro Ángel Gitano. The man of flamenco, com prefácio da atriz Diane Keaton.
Bailaores como Samuel Flores Carmona, Antonio Canales, Miguel Poveda e Miguel Flores foram fotografados por Afanador em Sevilha e Jerez de la Frontera para o produção do livro, que levou três anos. Cinco anos atrás, o fotógrafo lançou Mil Besos, com a temática feminina no universo flamenco.
Desinibidos, maquiados, com roupas "de homem", "de mulher" ou nus, bailaores e cantaores de diferentes idades estrelam imagens irreverentes e muito originais para essa arte secular de tradições tão demarcadas.

Capa do livro Ángel Gitano.
Bailaor Eduardo Guerrero Gonzalez. Huffington Post.

Farruquito no Brasil
Por falar em homens no flamenco, não poderia deixar de mencionar o espetáculo Improvisao, que o bailaor espanhol Farruquito fará no Brasil, com apresentações nos dias 21, 23 e 24 de novembro (Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo, respectivamente).
Segundo notícia do portal UOL, o trabalho explora o flamenco autêntico, baseado na improvisação e dispensando cenários.



Besos a los hombres y las mujeres!
Flah Menkita

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